segunda-feira, 18 de setembro de 2017

“Oito coisas fazem uma pessoa ficar fraca”, Atisha Dipankara

Vamos falar sobre ganhos mundanos, pessoalmente, tenho muito deste problema. Atisha Dipankara, um dos maiores eruditos budistas da Índia, tinha um modo maravilhoso de colocar isto.
Ele disse: “Oito coisas fazem uma pessoa ficar fraca”. Ele estava se referindo aos oito dharmas mundanos, ou oito armadilhas nas quais caímos:
Querer ganhar;
Não querer perder;
Querer ser reconhecido;
Não querer ser ignorado.
Querer ser elogiado;
Não querer ser criticado;
Querer prazer;
Não querer dor;
Estes são muito importantes. Devemos memorizá-los, de modo que de tempos em tempos podemos verificar se estamos caindo em uma destas armadilhas, ou até mesmo em todas elas.
Eu faço isso. Isso é o núcleo básico da minha prática, verificar se estou caindo em qualquer uma destas armadilhas.
São fáceis de lembrar: elogio e crítica; ganho e perda; prazer e dor; reconhecimento e ser ignorado.
Então, devemos verificar se caímos em qualquer uma destas armadilhas.
Eu caio em todas elas, especialmente na primeira, querer ser elogiado.
Sempre gosto de ser elogiado, essa é a minha maior fraqueza.
Estou certo de que isto acontece com muitos de nós; palavras pequenas, superficiais, inúteis e ridículas de louvor podem nos fazer realmente, realmente fracos.
O mesmo acontece com a crítica; algumas palavras ridículas e insignificantes de crítica podem nos ferir para sempre.
Penso que todos vocês sabem do que estou falando: como gostamos de ganhar, como não gostamos de perder; o quanto amamos a atenção; o quanto não gostamos de ser ignorados…
Todas estas são armadilhas. Se cairmos em uma destas armadilhas, nos tornaremos fracos.
Eu caio nestas oito armadilhas todo o tempo. Não quero perder amigos, quero ser louvado, não quero ser criticado, quero ganhar discípulos, quero ter atenção, não quero ser ignorado.
Então, o que faço? A fim de obter o que quero e de evitar o que não quero, eu termino massageando o ego de outras pessoas.
Idealmente, se eu fosse um professor de verdade, eu deveria estar lhes dizendo o que vocês precisam ouvir, o que pode ser bem doloroso.
Se eu realmente assumir seriamente o meu papel de amigo espiritual, isto irá ferir o seu ego.
A linha de fundo é que o caminho espiritual é ir além do desejo do ego.
Peço desculpas por dizer isto, mas este é o único caminho.
Então, se quisermos ser praticantes espirituais, se quisermos ser fortes, precisamos nos exercitar, por assim dizer.
O treinamento é basicamente lembrar de nos perguntarmos em qual destas armadilhas estamos caindo.
Dzongsar Khyentse Rinpoche
Tashi delek བཀྲ་ ཤིས་ བདེ་ ལེགས Que absolutamente todos os Seres Sencientes possam se beneficiar destes ensinamentos.
photo Master Atisha in Pelkor Chode Monastery Gyantse Shigatse Tibet by  God Anubys

“Assim eu ouvi…”

Os sutras (textos sagrados do budismo) sempre começam com Ananda (discípulo e primo de Buda) dizendo, “Assim eu ouvi…”
Isto é muito significativo, nos diz muito.
Ananda, que se lembrava de todas as palavras do Buda, não clamou que os ensinamentos viessem dele próprio.
Ele disse claramente que está simplesmente repetindo as palavras que ouviu do Buda Shakyamuni.
Hoje em dia, todos querem ser originais, especialmente os gurus.
Li livros de gurus modernos que afirmam que seus ensinamentos são a sua própria descoberta.
De alguma forma, as pessoas nesta sociedade moderna parecem ser atraídas para coisas novas e originais.
Mas aqui, não estamos procurando as invenções de alguém, estamos olhando para o Dharma puro e autêntico, as palavras do Buda.
Vivemos em um mundo onde somos atormentados pela constante insegurança.
A espiritualidade tornou-se um negócio, então os professores espirituais como eu sempre sentem a necessidade de gerar mais negócios.
Dada esta insegurança, sabendo do ponto fraco das pessoas, é bem fácil vender espiritualidade.
Alguns de vocês podem ser homens ou mulheres de negócios.
Então, estou certo de que vocês sabem o que nos leva a vender coisas.
Primeiro, você diz às pessoas que há algo que elas devem ter, algo que elas não têm. Então, você lhes diz que o lugar para comprar é aqui, de mim. Eu tenho o que você precisa.
O Buda disse:
"Não confie na pessoa, mas confie nos ensinamentos.
Não confie nas palavras, mas confie no significado."
Este é um grande conselho. Quando entramos no caminho espiritual, é importante sermos muito cuidadosos.
Há duas abordagens básicas para o caminho espiritual.
Idealmente, nossa intenção de praticar o caminho espiritual deve ser o atingimento da iluminação. É isso. Parada completa.
Mas, por causa de nossos padrões habituais, há uma abordagem diferente, tanto no Oriente quanto no Ocidente.
No Oriente, o budismo tornou-se algo como uma religião.
As pessoas praticam o budismo para obter vida longa, prosperidade, para melhorar seus negócios, por ganho pessoal, para dissipar certos espíritos e assim por diante.
Então, as pessoas não têm a meta da iluminação.
Eles têm a meta de decorar esta vida.
Não é melhor no Ocidente. No Ocidente, o Dharma também não é realmente dedicado à iluminação.
Aqui, as pessoas praticam o Buddhadharma (ensinamentos do Buda) principalmente para se acalmarem, para se curarem, para relaxarem… para a assim chamada “auto-melhoria”.
O Buda não ensinou o Dharma para estes tipos de ganhos mundanos.
Talvez pensemos, já que somos pessoas espirituais, não estamos procurando por ganhos materiais.
Mas ainda estamos procurando por algum tipo de ganho mental.
Se tivermos esse tipo de motivação, o budismo é um caminho que devemos evitar.
O caminho budista é basicamente uma má notícia do ponto de vista do ego.
Quanto mais praticamos e estudamos o budismo, mais chocante ele se torna para o nosso ego, mais ele irá contra o nosso egoísmo.
Então, devemos pensar muito cuidadosamente sobre o que é que nós queremos. Não é muito tarde, ainda podemos sair dele.
Dzongsar Khyentse Rinpoche
Tashi delek བཀྲ་ ཤིས་ བདེ་ ལེགས Que absolutamente todos os Seres Sencientes possam se beneficiar destes ensinamentos sagrados!

Mestre Dzogchen, SS Chatral Rinpoche, Sangye Dorje བྱ་བྲལ་སངས་རྒྱས་རྡོ་རྗེ

"Chatral Sangye Dorje", significa " Buda Indestrutível que abandonou todas as atividades mundanas".
Rinpoche era um dos detentores do Longchen Nyingthig, a linhagem que descende de Jigme Lingpa para Jigme Gyalwe Nyugu e daí para Patrul Rinpoche.
Ele foi entronizado como o regente-vajra de Sua Santidade Dudjom Rinpoche e passou esta linhagem para o tulku de Dudjom Rinpoche, que vive no Tibet central.
Foi detentor também da linhagem da Dakini Sera Khandro.
Comprometido com a vida de um yogi asceta errante, conhecido por sua grande realização e estrita disciplina, aclamado como um dos mais realizados yogis dos ensinamentos Dzogchen.
Rinpoche foi famoso por seu compromisso com o caminho budista, estudou com os grandes professores, incluindo Suas Santidades Dudjom Rinpoche e Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö, e a famosa Dakini Sera Khandro.

"Repentinamente perdemos um guardião que diligentemente protegia, de modo geral, o Dharma de Buda, em particular o Vajrayana, e em especial o Budismo Tibetano e a linhagem Nyingma.
O termo Chatral traz a conotação de um iogue ascético que tudo abandona.
De modo usual, os nomes são dados como rótulos.
Mas, no caso deste alguém que agora entra no parinirvana, o nome Chatral não era meramente. Ele era o epítome e a corporificação do verdadeiro significado da palavra chatral.
Em toda a longa duração de sua vida, que foi mais de 102 anos, este foi um homem que fez muito, se relacionou com alguns dos maiores seres, e se tornou o mestre dos mestres, inclusive ensinando e se tornando o guru de Yongzin Gyaltsab Radreng Rinpoche, que foi o homem que encontrou Sua Santidade o 14° Dalai Lama Tenzin Gyatso.
Mesmo assim este mesmo homem mal pode dizer que tem um monastério, instituto ou centro de Dharma. Ao redor dele, parafernálias como telhados banhados a ouro e tronos não são encontrados. Ele foi um Chatral no real sentido da palavra.
Mas não se engane: muitos Lamas como eu próprio, que fazem barulho, que exibem imagens destoantes, e que viajam por todo canto do mundo, não realizaram quase nada se comparado a este homem que parece que nunca fez nada exceto manter seu assento de meditação sempre quente.
Mas se ele manifestou ação, este foi o homem que usou 99.99% do que tinha salvando a vida de animais. Sendo assim, para seres ignorantes como nós, tentar expressar as grandes qualidades deste ser iluminado é como tentar medir a largura e a profundidade do céu.
Mesmo assim, se eu for expressar um ponto do pouco que eu conheci deste homem, é isto: o Dharma de Buda apresenta muitos desafios, inclusive todos os charlatães que prejudicam completamente a imagem do Dharma.
Eles podem ser superados por aqueles que parecem fazer a coisa certa, que parecem ser serenos, apropriados, morais, e que nunca incomodam ninguém.
Mas então isso nos leva a um outro desafio ainda mais difícil de superar. Porque fazer as coisas de modo apropriado, correto e com moral, e com o fardo de não incomodar ninguém, nos faz ser vítimas do politicamente correto e nos torna hipócritas.
Na minha limitada vida tenho visto muito poucos seres anti-hipocrisia, e ele foi um deles. Era sempre sincero, não havia negociação, e obviamente ele nunca trocou uma simples palavra de Dharma por dinheiro. Repetidas vezes ele se recusou a fazer reverência aos poderosos.
Ele fez um monte de hipócritas como nós estremecer. Só de saber que estava vivo e respirando, em algum lugar entre Siliguri e Pharping, fazia nossos corações tremerem.
Mesmo embora nós não conseguíssemos vê-lo, especialmente mais pro fim de sua vida, tive mais de 20 pedidos de entrevista recusados, sua mera presença nesta terra arrasava a hipocrisia.
Para expressar nossa homenagem, devoção e súplica, possamos nós, discípulos deste homem, manter em nossas vidas a prática de libertar seres vivos."
Dzongsar Khyentse Rinpoche

"Faça todo o esforço para não matar qualquer ser vivo: pássaros, peixes, gazelas, vacas e até mesmo pequenos insetos. Ao invés disto, ocupe-se de salvar a vida deles oferecendo proteção em face de todos os perigos. O benefício desta ação está além da imaginação. Esta é a melhor prática para a sua própria longevidade. E o mais grandioso ritual para os vivos ou mortos. É a minha principal prática para beneficiar os outros. Ela dissipa todos os obstáculos e adversidades externos e internos.Sem esforço e espontaneamente, traz condições favoráveis. E, quando inspirada pela nobre mente de bodhichitta e selada com preces puras de dedicação e aspiração irá levá-lo à completa iluminação e à realização do seu bem-estar e o dos outros. Disto você não precisa ter qualquer dúvida!"
S.S. Rinpoche Chatral
Tashi delek བཀྲ་ ཤིས་ བདེ་ ལེགས Que absolutamente todos os Seres Sencientes possam se beneficiar destes ensinamentos sagrados.